Quando pensamos num filme de guerra norte-americano actual, lembramo-nos automaticamente do Iraque, o conflito que o presidente Obama decretou terminado deixando lá 50 mil soldados. Mas a construção na Nova Ordem Mundial implica várias frentes, como aquela onde no passado penaram ingleses e soviéticos e para onde o mesmo Obama enviou um contingente de reforço de 40 mil soldados no início do seu mandato. A outra guerra está a tornar-se a principal e a chegar ao cinema, como não podia deixar de ser.
É exactamente para esse teatro de guerra que, neste filme, é enviado o Capitão Sam Cahill (Tobey MacGuire) para uma segunda comissão. Já no Afeganistão, o helicóptero onde seguia é abatido e ele é dado como morto. A trágica notícia vai abalar a retaguarda caseira. Sam é casado, tem duas filhas e é o filho preferido. O seu irmão Tommy (Jake Gyllenhaal) é a “ovelha negra” da família, que ainda por cima acabou de sair da prisão. A tensão cresce e as coisas não são, obviamente, fáceis. No entanto, a vida continua e por vezes altera-se como não imaginamos. Tommy, antes bêbado e irresponsável, começa a aproximar-se das sobrinhas e da cunhada e até mesmo do pai que o despreza.
Mas, mais uma vez, todo este ambiente vai sofrer um tremendo safanão. Sam Cahill não morreu. Conseguiu sobreviver a um doloroso cativeiro de torturas e privações impostas pelos taliban devido a uma terrível acção. Quando por fim regressa a casa, em clara e natural situação de ‘stress’ pós-traumático, o regresso ao seu lar perfeito vai ser demasiado difícil.
Depressão, agressividade, ciúme, suspeição, dúvida e violência. Estão criadas as condições para um drama intenso e é o que acontece, com Jim Sheridan ao leme, a responder à altura. Este realizador irlandês, que se notabilizou com o excelente “Em Nome do Pai” (1993), consegue captar com segurança o desempenho dos actores, no qual assenta o filme. Este não é um clássico nem uma revelação, mas Sheridan oferece-nos uma obra bem construída e honesta, neste ‘remake’ do dinamarquês “Irmãos” (2004), realizado por Susanne Bier.
As actuações têm nota positiva, no geral, com destaque para o trio Natalie Portman, à vontade no papel da mulher de Sam, Jake Gyllenhaal, muito bem como o irmão que começa a entrar numa esfera familiar que não era a sua, e Tobey MacGuire, seguro e confiante, a tentar deixar para trás a inevitável colagem ao “Homem-Aranha”. Referência positiva também para Sam Shepard, no papel de Hank Cahill, o pai dos dois irmãos.
Um bom filme sobre os traumas da guerra e a forma como estes afectam necessariamente a estabilidade da vida familiar, onde uma relação fraterna de confiança é seriamente abalada. [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]
ENTRE IRMÃOS
Título original: Brothers
Realização: Jim Sheridan
Com: Jake Gyllenhaal, Natalie Portman, Tobey Maguire, Clifton Collins Jr., Bailee Madison, Sam Shepard, Mare Winningham
EUA, 2009, 105 min.
Estreia em Portugal: 2 de Setembro de 2010.
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