É exactamente sobre os últimos tempos da vida de Tolstoi que trata “A Última Estação”, longa-metragem realizada por Michael Hoffman, que também escreveu o argumento a partir do romance homónimo de Jay Parini, publicado em 1990.
O filme debruça-se especialmente sobre a questão da cedência dos direitos de autor de Tolstoi ao domínio público, tal como queria Vladimir Chertkov (Paul Giamatti), amigo do escritor e fundador dos Tolstoianos. Tais intenções iam contra a vontade da mulher de Tolstoi, a condessa Sophia Tolstaya, interessada em garantir os rendimentos familiares e um estilo de vida aristocrático. Esta disputa vai pôr em causa a relação e o amor entre Tolstoi e a sua esposa e gerar inúmeros conflitos dentro da família e do movimento.
A meio deste turbilhão surge um novo elemento, Valentin Bulgakov (James McAvoy), recém-nomeado secretário de Tolstoi, seguidor dos seus ensinamentos e grande admirador da sua obra. Privando tanto com o escritor como com a sua mulher, a sua fidelidade acaba por ser dividida e tenta, dentro do possível, atenuar a tensão.
Apesar de tolstoiano, Bulgakov começa a interrogar-se sobre várias das posições do movimento e atitudes dos seus dirigentes, ao mesmo tempo que se apaixona por Masha (Kerry Condon), outra tolstoiana com dúvidas. Mas é o próprio Tolstoi que faz com que Bulgakov se questione, quando por exemplo lhe diz, depois de contar peripécias de juventude, “eu não sou lá um grande tolstoiano”.
Essa é talvez a parte mais interessante desta história, a reflexão sobre a concretização de um movimento e a vontade e posição da sua figura de referência. Até que ponto os seguidores o seguem realmente? Serão, como reza o ditado popular, mais papistas que o Papa?
Neste filme de época, com uma realização que cumpre, há a destacar as soberbas interpretações dos dois protagonistas Christopher Plummer, no papel de Tolstoi, e Helen Mirren, no papel de Sophia Tolstaya, que lhes valeram nomeações para os Óscares.
Por fim, para aqueles impacientes que saltam das cadeiras mal acaba a acção, chamo a atenção para não o fazerem. Durante o filme vemos que Tolstoi estava constantemente a ser filmado no seu dia-a-dia, o que gera uma curiosidade natural em ver as imagens originais. Acontece que essa curiosidade é satisfeita, pois várias dessas passagens acompanham os créditos finais. Uma oportunidade para comparar com o que acabámos de ver. [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]
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