ALÉM


Existe vida depois da morte? É possível comunicar com os que já partiram? São perguntas que o Homem tem feito ao longo dos tempos e que não perdem a actualidade. Este é um tema polémico e, pior ainda, muito dado a lamechices e charlatanices. Daí que ver Clint Eastwood debruçar-se sobre este assunto desperta, no mínimo, a curiosidade dos cinéfilos.

Reza a história que Steven Spielberg conseguiu que Eastwood lesse o argumento de Peter Morgan e se decidisse a fazer este filme que estava na calha há algum tempo. Será porque o realizador, agora octogenário, se preocupa mais com a morte? Interrogações a deixar aos especuladores habituais…

Nesta “Outra Vida”, são apresentadas três histórias que logo se percebe que se vão inevitavelmente cruzar. Por um lado temos a personagem mais bem conseguida, George Lonnegan (Matt Damon), um homem simples que consegue comunicar com o além e que já fez disso negócio com a ajuda do irmão interesseiro. Considera que o seu “dom” é na realidade uma maldição que o impede de levar uma vida normal. Abandonou as “leituras” e prefere trabalhar como operário. No entanto, não é tão fácil assim fugir do seu talento. Depois, há os dois gémeos ingleses de 12 anos, Marcus e Jason (Frankie e George McLaren), que vivem com a mãe drogada e alcoólica, controlada pelas autoridades. Jason morre atropelado e o irmão não descansa enquanto não consegue entrar em contacto com ele. Essa busca proporciona alguns momentos engraçados quando Marcus consulta certos charlatães que abundam neste meio. Por fim, a personagem mais fraca, Marie Lelay (Cécile de France), uma jornalista francesa com uma carreira de sucesso e a quem a vida corre de feição, que sobrevive a um ‘tsunami’ enquanto está na Tailândia. Essa experiência de quase-morte vai alterá-la para sempre e fá-la iniciar uma pesquisa sobre as provas científicas de que é possível comunicar com o além.

A fantástica cena do ‘tsunami’, que abre o filme, está muito bem conseguida e realizada. Confere alguma espectacularidade sem cair no exagero. É para isto que servem os efeitos especiais.

Quanto ao lado politicamente incorrecto de Clint, não deixa de aparecer, ainda que pontualmente. É o caso do atentado no metro de Londres ou a cena em que a professora de Marcus o manda tirar o boné dentro da aula, quando ao seu lado está uma rapariga muçulmana trajando o seu ‘hijab’…

Por último, foi na conferência de imprensa dada no New York Film Festival, em Outubro do ano passado, aquando da estreia deste filme, que Clint Eastwood referiu o nosso mestre cinematográfico Manuel de Oliveira. Disse ele: “há aquele realizador português que tem mais de cem anos e continua a fazer filmes. Eu tenciono fazer a mesma coisa!” Esperemos que sim. [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]

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