Êxito cinematográfico no país vizinho, onde ultrapassou os dois milhões de espectadores e arrecadou oito prémios Goya, este ‘prison movie’ conquistou o público com o seu realismo e intensidade que prendem a atenção até ao final.
Juan Oliver (Alberto Ammann) é um guarda prisional que vai iniciar funções e quer causar boa impressão desde o princípio. Para tal, decide ir ao estabelecimento onde foi colocado na véspera do seu primeiro dia de trabalho para ver como tudo funciona. Durante a visita com dois colegas é atingido por um pedaço do tecto que lhe cai na cabeça. Inconsciente, é levado para a cela 211, quando ao mesmo tempo se desencadeia um motim na prisão. À frente desta onda de violência está o implacável Malamadre (Luis Tosar) e tudo se afigura aterrador para Juan. Mas o jovem funcionário, no desespero de sobreviver, decide tentar a única coisa que o pode salvar – fazer-se passar por um dos detidos. Este jogo arriscado vai-se tornando cada vez mais perigoso, ao mesmo tempo que Juan vai conquistando a confiança dos reclusos, do seu líder e subindo na hierarquia dos amotinados. Até aqui a história é interessante, mas podia não passar apenas disso. Felizmente, há um ‘twist’ que nos leva a pensar nas nossas motivações e em como estas podem mudar num ápice perante alterações de fundo. Quem somos realmente? O que conseguimos fazer?
No campo da representação, destaque natural para o notável trabalho de Luis Tosar no papel do carismático líder dos detidos. Este actor galego encarna muito bem Malamadre, personagem bem construída que reflecte um homem violento, duro e impiedoso, mas ainda assim seguidor de um código de honra próprio, cuja autoridade agressivamente mantida é reconhecida pelos demais. Referência também para Alberto Ammann que, tal como a sua personagem, se vai revelando ao longo do filme, proporcionando uma óptima evolução, essencial para a história.
Ao ver esta viagem ao mundo prisional espanhol, não pude deixar de recordar um filme de que aqui falei quando estreou no início deste ano. Trata-se de “Um profeta” (2009), do francês Jacques Audiard, um outro olhar sobre os cárceres europeus no qual há alguns pontos em comum interessantes. Há em ambos a presença de membros de grupos terroristas, mas o pormenor mais interessante é a actual composição étnica, nomeadamente os gangues provenientes da imigração que têm cada vez mais força e poder.
Um filme europeu com bastante acção e a capacidade de atrair o grande público, mas nem por isso a desprezar. [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]
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