Enfrentar o destino


O grande mestre da ficção científica Philip K. Dick teve já diversas das suas obras adaptadas ao cinema. Não esperando propriamente algo à altura do clássico contemporâneo Blade Runner (1982), suscita-me sempre a curiosidade quando um realizador decide levar PKD ao grande ecrã.

Desta vez foi a escolha de estreia de George Nolfi, já conhecido como argumentista – o seu mais recente trabalho de escrita foi o último filme da série Bourne, “Ultimato” (2007) –, como realizador. Adaptou o conto “Adjustment Team”, de 1954, e dirigiu um filme que deixa a desejar. O que podia ser uma bela incursão no género ‘sci-fi’, torna-se um ‘thriller’ romântico. Um exercício de entretenimento mais próprio para uma tarde de domingo. Tal não é necessariamente mau, já que a prestação dos protagonistas é boa e certos pormenores evitam o enfado.

Matt Damon, que tem aparecido frequentemente em grandes produções, confirma o seu talento de como actor multifacetado e a dupla que faz com Emily Blunt resulta bastante bem.

A história mostra-nos o jovem e ambicioso político David Norris (Matt Damon), em plena campanha eleitoral e a caminho de um promissor futuro. Depois de um percalço que o desvia de uma vitória anunciada, conhece a bela bailarina contemporânea Elise Sellas (Emily Blunt) que não lhe sai da cabeça. Parecem destinados um ao outro, mas de quem depende o destino?

Cedo Norris descobre acidentalmente, para sua total estupefacção, que há agentes do destino que têm como missão assegurar que tudo se mantenha “de acordo com o plano”. Para tal trabalham em equipa e dispõem de vários poderes. Um deles é a impressionante facilidade das passagens espácio-temporais que lhes permitem “saltar” de um lado para outro com óbvia vantagem sobre o perseguido. Este é um pormenor interessante, já que a forma de entrar nestes canais é através de portas que aparentam ser normais. Outro ponto curioso é o do guarda-roupa bem conseguido destes agentes, sempre de chapéu, num estilo algo ‘fifties’.

Decididos a cumprir a sua missão, que não questionam, os agentes vão perseguir os protagonistas acelerando a acção do filme numa corrida de tirar o fôlego que nos leva, infelizmente, a um final fraco e mais que previsível.

O ponto forte está nas questões maiores que toda a história levanta e que o realizador-argumentista parece relegar, a medo, para segundo plano. Será que o livre-arbítrio condena a humanidade? O homem contra quem o controla, contra quem lhe delineou os planos. Contra toda uma máquina que assegura o cumprimento desses planos previamente delineados. Pode o homem alterar o seu destino? E quando o amor se atravessa no caminho... Pode o amor mudar o destino? [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]

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