O escritor francês Pierre Drieu la Rochelle foi por muitos condenado à lista dos “malditos”, pelas suas ideias políticas. No entanto, o seu extraordinário talento conseguiu derrubar muitas barreiras e ultrapassar a intolerância dos que se consideram donos da verdade. Talvez por isso só este ano é que a sua obra foi publicada na prestigiada biblioteca da Pléiade. Em 1931, publicou “Le feu follet”, um romance inspirado no suicídio do seu amigo Jacques Rigaut, um escritor dadaísta toxicómano. A obra seria passada ao cinema em 1963 por Louis Malle, que a adaptou à época e na qual o protagonista, interpretado por Maurice Ronet, era alcoólico.
Em entrevista, Joachim Trier disse que chegou até o livro de Drieu depois de ver o filme de Malle. Daí veio a ideia de transpor a história para a Oslo dos nossos dias. O resultado foi impressionante.
Anders é um toxicodependente que está internado numa clínica de recuperação. No último dia de Agosto é autorizado a sair por um dia para ir a Oslo a uma entrevista de emprego numa revista. Neste regresso à cidade, que também é um regresso ao seu passado, vai encontrar-se com os amigos e locais dos quais se tinha afastado.
A sobriedade mostra-lhe a realidade como ela é. Algo que está longe de ser bom e uma das razões que o levaram ao abuso de drogas e álcool.
Anders tem 34 anos e sente que nada fez na vida e que nada tem a fazer. As experiências dos amigos que reencontra apenas confirmam as suas intenções. O mundo que ele redescobre nada tem para lhe oferecer. A única solução é partir.
Nesta denúncia da vacuidade do mundo em que vive, há duas cenas memoráveis e extremamente bem conseguidas. Uma é o monólogo interior no qual Anders descreve os seus pais e a forma “aberta” como foi educado. Outra é quando está sozinho num café e ouve as conversas fúteis que pairam à sua volta. Momentos para reflectirmos...
O último dia da vida de Anders é a revolta solitária contra o mundo pós-moderno. [publicado na edição desta semana de «O Diabo»]
Sem comentários:
Enviar um comentário