Em 2003 os EUA invadem o Iraque na sua “guerra contra o terrorismo”, justificando esta acção militar com a existência de armas de destruição maciça naquele país e o objectivo de levar a “democracia” e a paz ao povo iraquiano. O resultado é hoje bem conhecido de todos: armas nem vê-las e o caos instala-se.
É neste cenário que decorre a acção de “Green Zone”, que entre nós recebe o nome de “Combate pela Verdade”, onde se conta a história do sargento Roy Miller (Matt Damon) que com a sua unidade de inspectores do exército procura armas de destruição maciça, mas, pelo contrário, descobre um intrincado plano que se propõe revelar.
Este “thriller” explora bem as guerras internas no seio das forças americanas, os seus conflitos de interesses, rivalidades e diferentes objectivos. Neste turbilhão surge um paladino da verdade, o sargento Miller, disposto a desobecer e contrariar regras e ordens para atingir o seu propósito superior. Para além da cena onde Miller é desautorizado e mesmo agredido pelo chefe de uma equipa das forças especiais, há um diálogo que espelha bem tudo isto. O sargento pergunta a um responsável da CIA: “Não estamos todos do mesmo lado?”, ao que ele responde: “É um pouco mais complicado que isso...”
Este diálogo passa-se num ambiente que, longe de um cenário de guerra, mais parece um “resort” de férias. A esplanada junto a uma piscina onde passeiam raparigas em biquini e se pode comer churrasco e beber cerveja gelada não é um exagero. É baseada no relato feito pelo jornalista do Washington Post Rajiv Chandrasekaran, no seu livro de investigação “Imperial Life in the Emerald City”, publicado em 2006, que inspirou este filme.
Perante as acusações de “anti-americano” e “anti-guerra”, Richard “Monty” Gonzales, antigo militar em que se baseia a personagem do sargento Miller e que foi consultor neste filme, lembrou que esta história de conspiração se trata de ficção e que não é um retrato fiel do trabalho da sua equipa no Iraque.
O britânico Paul Greengrass filma com o mesmo estilo movimentado e ritmo ofegante com que fez nos dois filmes da trilogia Bourne que realizou, respectivamente “Supremacia” (2004) e “Ultimato” (2007). Com Matt Damon como protagonista, as semelhanças com essa série são ainda maiores. Mas não, apesar deste ser um bom filme de acção, não é “Bourne no Iraque”, e o seu final moralista e previsível – bem à americana – deixa a desejar. [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]
COMBATE PELA VERDADE
Título original: Green Zone
Realização: Paul Greengrass
Com: Matt Damon, Greg Kinnear, Amy Ryan, Brendan Gleeson, Jason Isaacs, Yigal Naor, Khalid Abdalla
EUA/GB/FRA/ESP, 2010, 115 min.
Estreia em Portugal: 8 de Abril de 2010.
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Indie Lisboa 2010
Começa hoje o IndieLisboa’10, a 7.ª edição do festival de cinema independente, que se prolongará até dia 2 de Maio com a exibição de 276 filmes, divididos em várias secções, para além de outras actividades. Mais informações em: http://www.indielisboa.com/
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Paremos
Quando me apresentam decisões precipitadas, apressadas, impensadas, irresponsáveis, tenho por hábito dizer que é melhor fazer como indicam os sinais das passagens de caminho de ferro: “Pare, Escute, Olhe”. Reflectir para só depois agir. É esse o conselho de Jorge Pelicano num documentário militante que alerta para a morte anunciada da linha férrea do Tua, em risco de ficar submersa devido à construção de uma barragem.
Este jovem realizador, repórter de imagem da SIC, cujo primeiro filme “Ainda há pastores” foi bastante premiado, conseguiu desta vez vencer o prémio do Melhor Documentário Português no DocLisboa 2009 entre outras distinções. Nesse festival, aquando da sua estreia, foi alvo de algumas críticas, nomeadamente por quem o considerou uma reportagem de televisão. Mas este filme – porque é um filme documentário – é um manifesto político em defesa de um património e de uma gente. Para tal não tem pudor (felizmente!) de mostrar os políticos, as suas contradições e de lhes apontar o dedo. Porque estes, movidos pela ganância, estão dispostos a destruir irresponsavelmente uma “identidade”, como afirma a determinada altura um professor universitário espanhol.
Há nesta obra o retrato de uma região esquecida, de um interior deixado para trás. Parte de um país onde a população idosa vê emigrar os mais jovens e verá a sua agricultura submergida pelas águas da barragem. Portugueses que vêem desaparecer o seu povo e a sua terra. Tudo em nome do “progresso”, esse perigoso mito arrasador e uniformizador, cujos efeitos nefastos são muitas vezes irreversíveis.
Que este excelente filme seja um despertar. Que gere uma mobilização, não só pelo Tua, mas por Portugal. Para que, perante as mentiras dos (des)governantes, ou o desejo de cimento afirmado pelo primeiro-ministro José Sócrates no estaleiro de construção da barragem, digamos não! E estejamos dispostos a contrariar a voracidade do lucro e o primado da economia, recordando que são as pessoas e suas vidas que formam uma nação.
São exactamente essas pessoas a quem é dada voz neste trabalho, que tem como tela uma das paisagens mais belas do nosso país. As suas reivindicações provocam tanto a revolta e a indignação, como a melancolia e por vezes até um sorriso.
“Pare, Escute, Olhe” é também um livro, um blogue, um sítio na internet (http://www.pareescuteolhe.com/), um movimento de intervenção cívica. É uma postura diferente do habitual conformismo português.
Paremos para ver este filme. Paremos para depois agir. Paremos para salvar uma identidade. Paremos... [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]
PARE, ESCUTE, OLHE
Realização: Jorge Pelicano
Portugal, 2010, 102 min.
Estreia em Portugal: 8 de Abril de 2010
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Este jovem realizador, repórter de imagem da SIC, cujo primeiro filme “Ainda há pastores” foi bastante premiado, conseguiu desta vez vencer o prémio do Melhor Documentário Português no DocLisboa 2009 entre outras distinções. Nesse festival, aquando da sua estreia, foi alvo de algumas críticas, nomeadamente por quem o considerou uma reportagem de televisão. Mas este filme – porque é um filme documentário – é um manifesto político em defesa de um património e de uma gente. Para tal não tem pudor (felizmente!) de mostrar os políticos, as suas contradições e de lhes apontar o dedo. Porque estes, movidos pela ganância, estão dispostos a destruir irresponsavelmente uma “identidade”, como afirma a determinada altura um professor universitário espanhol.
Há nesta obra o retrato de uma região esquecida, de um interior deixado para trás. Parte de um país onde a população idosa vê emigrar os mais jovens e verá a sua agricultura submergida pelas águas da barragem. Portugueses que vêem desaparecer o seu povo e a sua terra. Tudo em nome do “progresso”, esse perigoso mito arrasador e uniformizador, cujos efeitos nefastos são muitas vezes irreversíveis.
Que este excelente filme seja um despertar. Que gere uma mobilização, não só pelo Tua, mas por Portugal. Para que, perante as mentiras dos (des)governantes, ou o desejo de cimento afirmado pelo primeiro-ministro José Sócrates no estaleiro de construção da barragem, digamos não! E estejamos dispostos a contrariar a voracidade do lucro e o primado da economia, recordando que são as pessoas e suas vidas que formam uma nação.
São exactamente essas pessoas a quem é dada voz neste trabalho, que tem como tela uma das paisagens mais belas do nosso país. As suas reivindicações provocam tanto a revolta e a indignação, como a melancolia e por vezes até um sorriso.
“Pare, Escute, Olhe” é também um livro, um blogue, um sítio na internet (http://www.pareescuteolhe.com/), um movimento de intervenção cívica. É uma postura diferente do habitual conformismo português.
Paremos para ver este filme. Paremos para depois agir. Paremos para salvar uma identidade. Paremos... [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]
PARE, ESCUTE, OLHE
Realização: Jorge Pelicano
Portugal, 2010, 102 min.
Estreia em Portugal: 8 de Abril de 2010
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cinema
Uma história americana
Os americanos adoram histórias inspiradoras, enternecedoras e bastante cor-de-rosa. De preferência sobre situações fora do comum onde, contra todas as expectativas, tudo corre extraordinariamente bem. Lições de vida prontas a servir de exemplo prático do sonho americano. É isso que é “Um Sonho Possível”. É uma história americana, mais concretamente da América conservadora dos estados do Sul.
Parece outra historieta inverosímil, até mesmo fantasiosa, mas não. O filme é baseado no livro “The Blind Side: Evolution of a Game”, escrito pelo jornalista Michael Lewis, que conta a história real da família Tuohy que adoptou, caridosa e cristãmente, um jovem negro de 16 anos que nunca conheceu o pai e foi retirado muito novo à sua mãe toxicodependente. Apoiando-o nos estudos feitos num colégio privado e iniciando-o no futebol americano, levaram-no a uma bolsa de estudo desportiva universitária que lhe proporcionou a entrada como nova estrela numa equipa da National Football League.
Michael Oher (Quinton Aaron) é um gigante simpático que tem como característica fundamental o instinto protector. Vai enfrentando com dificuldade o mundo tão diferente onde é inserido pelos Tuohy mas, reconhecido pelo seu gesto, descobre neles a sua nova família.
Sandra Bullock representa muito bem neste trabalho que lhe garantiu o almejado Óscar, num papel que veste como se fosse um fato à medida. No entanto, está muito acima dos restantes, fazendo com que o filme gire à sua volta. A sua personagem é uma mulher de força: um verdadeiro tufão no feminino. Republicana, cristã, membro da National Rifle Association e uma das figuras da classe rica de Memphis, Leigh Anne Tuohy é activa, decidida e sem papas na língua. Sempre de resposta pronta, com carregado sotaque sulista, enfrenta “gangsters” negros, professores, “rednecks”, entre outros, na defesa do seu novo menino.
Como não podia deixar de ser, “Um Sonho Possível” foi criticado por alguns como tempo de antena do partido republicano e por outros considerado paternalista por passar a imagem da necessidade da ajuda dos brancos aos negros que, ainda por cima, apenas vingam no desporto. Críticas à parte, este filme mostra-nos uma América sulista onde, longe das leis de segregação e das tensões raciais de outros tempos, continuam a existir dois mundos separados, mesmo apesar da discriminação positiva e políticas afins.
Suscitando alguma curiosidade, não passa de um filme ligeiro, realizado sem qualquer surpresa ou novidade e muito (demasiado) americano. Das tiradas cómicas, há uma que me ficou na cabeça. Quando Sean Tuohy observa o seu novo filho a estudar com a recém-contratada explicadora, diz para a sua mulher: “Quem diria que teríamos um filho negro antes de conhecermos uma democrata?” [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]
UM SONHO POSSÍVEL
Título original: The Blind Side
Realização: John Lee Hancock
Com: Sandra Bullock, Tim McGraw, Quinton Aaron, Jae Head, Lily Collins, Ray McKinnon, Kathy Bates
EUA, 2009, 129 min.
Estreia em Portugal: 25 de Março de 2010.
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Parece outra historieta inverosímil, até mesmo fantasiosa, mas não. O filme é baseado no livro “The Blind Side: Evolution of a Game”, escrito pelo jornalista Michael Lewis, que conta a história real da família Tuohy que adoptou, caridosa e cristãmente, um jovem negro de 16 anos que nunca conheceu o pai e foi retirado muito novo à sua mãe toxicodependente. Apoiando-o nos estudos feitos num colégio privado e iniciando-o no futebol americano, levaram-no a uma bolsa de estudo desportiva universitária que lhe proporcionou a entrada como nova estrela numa equipa da National Football League.
Michael Oher (Quinton Aaron) é um gigante simpático que tem como característica fundamental o instinto protector. Vai enfrentando com dificuldade o mundo tão diferente onde é inserido pelos Tuohy mas, reconhecido pelo seu gesto, descobre neles a sua nova família.
Sandra Bullock representa muito bem neste trabalho que lhe garantiu o almejado Óscar, num papel que veste como se fosse um fato à medida. No entanto, está muito acima dos restantes, fazendo com que o filme gire à sua volta. A sua personagem é uma mulher de força: um verdadeiro tufão no feminino. Republicana, cristã, membro da National Rifle Association e uma das figuras da classe rica de Memphis, Leigh Anne Tuohy é activa, decidida e sem papas na língua. Sempre de resposta pronta, com carregado sotaque sulista, enfrenta “gangsters” negros, professores, “rednecks”, entre outros, na defesa do seu novo menino.
Como não podia deixar de ser, “Um Sonho Possível” foi criticado por alguns como tempo de antena do partido republicano e por outros considerado paternalista por passar a imagem da necessidade da ajuda dos brancos aos negros que, ainda por cima, apenas vingam no desporto. Críticas à parte, este filme mostra-nos uma América sulista onde, longe das leis de segregação e das tensões raciais de outros tempos, continuam a existir dois mundos separados, mesmo apesar da discriminação positiva e políticas afins.
Suscitando alguma curiosidade, não passa de um filme ligeiro, realizado sem qualquer surpresa ou novidade e muito (demasiado) americano. Das tiradas cómicas, há uma que me ficou na cabeça. Quando Sean Tuohy observa o seu novo filho a estudar com a recém-contratada explicadora, diz para a sua mulher: “Quem diria que teríamos um filho negro antes de conhecermos uma democrata?” [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]
UM SONHO POSSÍVEL
Título original: The Blind Side
Realização: John Lee Hancock
Com: Sandra Bullock, Tim McGraw, Quinton Aaron, Jae Head, Lily Collins, Ray McKinnon, Kathy Bates
EUA, 2009, 129 min.
Estreia em Portugal: 25 de Março de 2010.
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cinema
Tintin no país dos piratas
Para os apreciadores do mais famoso repórter do mundo, "Tintin au pays des pirates" é um sítio na internet onde é possível encontrar muitos dos álbuns piratas, pastiches e paródias desta personagem incontornável da banda desenhada franco-belga.
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banda desenhada
O Regresso de Mel Gibson
Do surpreendente mundo pós-apocalíptico de Mad Max (1979), Mel Gibson deu o salto para o cinema de acção dos anos 80. Experimentou depois com sucesso a realização, nomeadamente com a excelente incursão histórica “Braveheart” (1995) e, mais recentemente, com “A Paixão de Cristo” (2004) e “Apocalypto” (2006), que geraram certa polémica, tal como algumas das suas acções e afirmações. Agora decidiu regressar ao grande ecrã, infelizmente no que parece uma involução.
“Edge of Darkness”, que em português recebe a tradução livre “Fora de Controlo”, é a adaptação ao cinema de uma mini-série televisiva britânica homónima de 1985. Realizada pelo mesmo Martin Campbell, que depois se tornaria mais conhecido por dirigir duas aventuras do famoso agente secreto James Bond, era um “thriller” ecológico em seis episódios que recebeu vários prémios e foi um êxito junto do público.
Em filme a coisa já não funciona tão bem. O ritmo é bom, mas a história perde muito nesta versão. Tudo tresanda a filme ultrapassado com um cenário actual. [continua na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]
FORA DE CONTROLO
Título original: Edge of Darkness
Realização: Martin Campbell
Com: Mel Gibson, Ray Winstone, Danny Huston, Bojana Novakovic
EUA, 2010, 117 min.
Estreia em Portugal: 18 de Março de 2010.
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“Edge of Darkness”, que em português recebe a tradução livre “Fora de Controlo”, é a adaptação ao cinema de uma mini-série televisiva britânica homónima de 1985. Realizada pelo mesmo Martin Campbell, que depois se tornaria mais conhecido por dirigir duas aventuras do famoso agente secreto James Bond, era um “thriller” ecológico em seis episódios que recebeu vários prémios e foi um êxito junto do público.
Em filme a coisa já não funciona tão bem. O ritmo é bom, mas a história perde muito nesta versão. Tudo tresanda a filme ultrapassado com um cenário actual. [continua na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]
FORA DE CONTROLO
Título original: Edge of Darkness
Realização: Martin Campbell
Com: Mel Gibson, Ray Winstone, Danny Huston, Bojana Novakovic
EUA, 2010, 117 min.
Estreia em Portugal: 18 de Março de 2010.
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