Cinema São Jorge |
Noite Sangrenta (*)
Estava curioso em relação a “Noite Sangrenta", a mini-série em dois episódios da RTP, que retrata a noite brutal da "camioneta fantasma" e que abriu o MOTELx em antestreia nacional. Está bem filmada e produzida, notando-se algum cuidado na recriação da época, tanto nos cenários, como no guarda-roupa. Já no registo oral, desiludiu. Por exemplo, soa logo mal o sotaque lisboeta actual de uma criada ou de um guarda prisional de Coimbra, no início do século XX. Estes pormenores prendem-se, a meu ver, com uma falha em reproduzir (ou reconhecer?) a marcada divisão de classes de então. Mas o pior, como alguns me avisaram, é mesmo a inspiração ideológica desta obra. Apesar de se anunciar como obra de ficção, propõe uma versão da tenebrosa "noite sangrenta" na qual os responsáveis são meros idiotas úteis de uma conspiração "das direitas"... É mais uma celebração de uma República imaginária — um mero acto de propaganda.
Survival of the Dead (***)
George A. Romero e Nuno Markl |
F (****)
Esta foi uma óptima surpresa neste festival, um belo regresso ao medo nos filmes de terror, como disse Johannes Roberts numa vídeo-mensagem antes da projecção de “F”. Este realizador britânico, que à última hora não pode estar presente no MOTELx, não deixou ainda de saudar os espectadores e dizer que este trabalho era uma “carta de amor” a Carpenter e o seu clássico “Assalto à 13.ª Esquadra” (1976). Realmente, o ambiente claustrofóbico da escola que é atacada por jovens encapuzados, cujo único objectivo é assassinar brutalmente quem encontram, é essencial para a tensão permanente que se sente do início ao fim. Mas a história não se resume ao terror. Explora muito bem o campo das relações humanas, sejam no registo politicamente incorrecto em que é tratada a relação aluno-professor, seja na complicada relação pai-filha. A não perder.
Centurion (***)
Mais um realizador britânico que não pode estar presente, mas que em vídeo deu alguns pormenores interessantes sobre a realização de “Centurion”, rodado em seis semanas nas ilhas escocesas em temperaturas negativas e condições adversas. Esse realismo transparece para o filme e é bom. No entanto, apesar das magníficas paisagens serem irresistíveis, Neil Marshall abusa dos planos aéreos. Apesar de certas personagens e algumas opções da história não serem as melhores, esta é uma boa incursão no mundo guerreiro da Antiguidade.
Sala cheia |
No último dia, foi entregue o prémio MOTELx para a Melhor Curta de Terror Portuguesa 2010 a “Bats in the Belfry” (Portugal, 2010, 8') de João Alves, atribuído pelo júri constituído por Alan Jones, José de Matos-Cruz e José Nascimento. De seguida, foi projectado “The Revenant” (2009), de D. Kerry Prior, um daqueles penosos exercícios que são as tentativas de humor sem graça. Apesar das gargalhadas de parte do público, não me arrancou um sorriso e foi uma estopada que, para mim, fechou mal um óptimo festival. Para o ano, felizmente, há mais. [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]
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