RUMO AO NORTE

“Sem nome” é a estreia nas longas-metragens do jovem realizador californiano Cary Fukunaga, que também escreveu o argumento deste filme que nos leva à América Central pelos trilhos da imigração ilegal e da vida nos gangues.

A acção começa em Chiapas, no sul do México, onde através de Willy (Edgar Flores) somos introduzidos na realidade do gangue a que pertence e onde é conhecido por “El Casper”. Os membros distinguem-se pelas suas tatuagens em todo o corpo, muitos deles até na cara, e estão naturalmente implicados em actividades criminosas. Willy escapa-se por vezes às suas obrigações para estar secretamente com a sua namorada e isso é algo que prontamente percebemos que lhe trará problemas com os seus companheiros. Um dos sítios a que tem que estar atento é a La Bombilla, uma parte da linha férrea onde centenas de imigrantes esperam comboios que os levem para norte, em direcção ao desejado “el dorado”.

O gangue em questão é o Mara Salvatrucha, que não é ficcionado, mas bem real. Nascido nos anos 80 em Los Angeles como gangue étnico salvadorenho, desenvolveu-se até aos nossos dias estendendo a sua influência da América Central à do Norte, após as deportações de vários dos seus membros. As suas principais características são a extrema violência e as vinganças cruéis. Os ritos iniciáticos, as tatuagens, os símbolos feitos com as mãos, as execuções e a exploração dos imigrantes, tais como aparecem no filme, ao que parece estão bem representadas e correspondem às práticas dos “mareros”.

Voltando a La Bombilla, é aí que Sayra (Paulina Gaitán), que vem com o seu pai e o seu tio desde as Honduras com o objectivo de chegar aos EUA, se vai cruzar com Willy e o seu percurso altera-se radicalmente. Através dela e dos seus familiares ficamos a conhecer as árduas condições enfrentadas por estes imigrantes, dispostos a arriscar tudo pelo seu sonho. Viajando em cima de comboios de mercadorias, sempre alerta às autoridades, tanto são agradavelmente surpreendidos por crianças que lhes atiram fruta para comer, quando passam no centro do país, como lhes esperam pedras e insultos quando já estão perto da fronteira do norte, atiradas igualmente por crianças que lhes dizem: “Não vos queremos aqui! Vão-se embora!”

Há um dado curioso a notar. Paulina Gaitán, que interpreta a rapariga hondurenha, é uma actriz mexicana, e Edgar Flores, que interpreta um jovem mexicano, é um actor hondurenho.

Concluindo, apesar da actualidade do tema tratado e das possibilidades desta história, o filme não surpreende. Pelo contrário, é sempre previsível, com os acontecimentos futuros anunciados com demasiada antecedência. As representações também deixam a desejar e a realização, apesar de alguns bons planos e sequências, não traz nada de novo. [publicado na secção CineMais da edição desta semana de «O Diabo»]



SEM NOME
Título original: Sin Nombre
Realização: Cary Fukunaga
Com: Edgar Flores, Paulina Gaitán, Diana García, Tenoch Huerta, David Serrano, Gerardo Taracena
EUA/MÉX, 2009, 96 min.
Estreia em Portugal: 24 de Junho de 2010.
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